terça-feira, 1 de junho de 2010


Eu poderia usar minhas próprias palavras para descrever o show da minha banda favorita, mas acho que não conseguiria atingir as palavras como esse jornalista conseguiu. Então faço as palavras dele, como minhas!!!

LUIGI PONIWASS - Gazeta do Povo - Publicado em 01/06/2010

Confesso que eu estava com medo de que veria a última apresentação do Aerosmith em solo brasileiro, sábado, no Estádio Palestra Itália, em São Paulo. O tombo de Steven Tyler (que resultou num ombro fraturado e 20 pontos na cabeça em agosto do ano passado), o sumiço dele em novembro – para se tratar numa clínica de recuperação – e a consequente busca por um novo cantor (o guitarrista Joe Perry chegou a anunciar um concurso para substituir Tyler) poderiam ter deixado cicatrizes profundas na banda norte-americana.

Não parece ser o caso. Quem tomasse por base o show na capital paulista, diria que o Aerosmith continua em plena forma e que o relacionamento entre seus integrantes permanece cordial e saudável. Do momento em que Steven Tyler gritou “Sao Paulo, are you reaaaady?”, às 21h35, até a despedida, por volta das 23h40, as 38 mil pessoas que lotaram o estádio do Palmeiras viram um grande espetáculo de rock, cheio de hits, executado por uma banda competente e bem disposta. O único reflexo do acidente de agosto foi um Steven Tyler um pouco mais comedido. Aos 62 anos, dessa vez ele não arriscou saltos mortais ou outras piruetas mais ousadas. Em compensação, sua voz continua a mesma: poderosa, rasgada e estridente.

De cara, duas mudanças em relação à performance de Porto Alegre, no dia 27: “Eat the Rich” e “Back in the Saddle” – na qual Tyler já mostrava que continua berrando como um garoto. Com a máquina aquecida, dispararam mais três petardos: “Love in a Elevator”, “Falling in Love (It’s Hard on the Knees)” e “Pink”. Então veio “Dream On”, o primeiro sucesso da banda, de 1973. É aquela música em que toda a plateia fica esperando para ver se o cara (no caso, Tyler) vai conseguir reproduzir os absurdos guinchos da parte final. E ele foi lá e fez igualzinho – como se tivessem passado 37 dias e não 37 anos.

Depois vieram “Living on the Edge”, “Jaded” e uma nova surpresa: a ótima “Kings and Queens”, do álbum Draw the Line, de 1978. Retomaram o script com as irmãs “Crazy” e “Cryin’” (famosas pelos clipes com Alicia Silverstone), e com o solo de bateria de Joey Kramer – que emulou John Bonham, do Led Zeppelin, tocando com as mãos. Em seguida, o clima esfriou um pouco com “Lord of the Thighs”, de 1974. Foi a senha para incendiar de novo a galera com a grande sacada performática da noite: um duelo entre o avatar de Joe Perry no game Guitar Hero, projetado no telão, e o guitarrista real – vencido, naturalmente, pelo último.

Nova catarse se sucedeu com a galera cantando a capella a parte inicial de “What it Takes”, power ballad de Pump, de 1989. “Sweet Emotion” marcou a hora de jogar os holofotes sobre o baixista Tom Hamilton. Na sequência a banda tocou “Baby Please Don’t Go”, clássico de Big Joe Williams regravado no álbum Honkin’ on Bobo, de 2004. O rockão “Draw the Line” foi a última música antes do bis. Depois de uns poucos minutos, ecoou no estádio o poderoso riff de “Walk this Way”, sucedida por outra surpresa, “Toys in the Attic”, de 1975, que encerrou o show.

Para o meu gosto, só faltou a açucarada “I Don’t Want to Miss a Thing” (do filme Armageddon), que constava do setlist de Porto Alegre. Uma pequena frustração, compensada com a forma carinhosa com que Joe Perry apresentou seu companheiro Steven Tyler: “o maior cantor do planeta, o demônio dos gritos”. Parece que o Aerosmith ressuscitou outra vez. Cocked, locked, ready to rock...

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